Ressurgimento do vírus da influenza aviária altamente patogênica A(H5N1) zoonótica no Camboja¹

 

06/11/2025

O Camboja enfrenta um ressurgimento de infecções pelo vírus da influenza aviária altamente patogênica (HPAI) A(H5N1), com uma taxa de mortalidade geral de 38%. Os casos ocorreram principalmente em crianças e adolescentes expostos a aves infectadas. De fevereiro de 2023 a agosto de 2024, um total de 16 infecções foram detectadas por meio dos sistemas nacionais de vigilância para síndrome gripal e infecção respiratória aguda grave. Todos os pacientes relataram exposição a aves doentes ou mortas. As investigações do surto identificaram vírus contemporâneos e geneticamente semelhantes em aves coletadas dentro ou ao redor das residências dos casos, ou por meio da vigilância ativa e longitudinal de mercados de aves vivas. O sequenciamento genômico revelou uma origem aviária para todas as infecções humanas, e as sequências foram compartilhadas publicamente por meio da GISAID.

Os casos iniciais, ocorridos em fevereiro de 2023, foram causados pelo clado 2.3.2.1e do vírus A(H5N1) endêmico na região (anteriormente classificado como 2.3.2.1c na nomenclatura da OMS²), enquanto os casos subsequentes foram associados a um novo vírus reassortante. O clado 2.3.2.1e local adquiriu genes do clado 2.3.4.4b e de vírus da influenza aviária com baixa patogenicidade, provavelmente por meio de aves selvagens ou transmissão não detectada entre aves domésticas, embora os dados genômicos não permitam a atribuição definitiva da fonte. Os genes PB2, PB1 e PA foram introduzidos de vírus de baixa patogenicidade (LPAI), e os genes PB2, MP e NS genes introduzidos de vírus H5N1 (clado 2.3.4.4b) de alta patogenicidade (HPAI) (Siegers et al., 2025). Esse vírus reassortante se espalhou pela sub-região do Grande Mekong, substituindo cepas anteriores. É importante destacar que este vírus apresenta assinaturas genômicas (por exemplo, PB2:E627K) que estão ligadas ao aumento da atividade da polimerase, da virulência e da capacidade de replicação em aves e mamíferos³, o que representa um risco potencial maior para a indústria avícola, bem como um risco potencial maior de transmissão zoonótica.

Essa nova recombinação genética, acompanhada da substituição de genótipos e do ressurgimento em humanos, ressalta a natureza dinâmica e imprevisível da evolução do vírus HPAI A(H5N1), particularmente em regiões com alta densidade de interações entre aves e humanos. O panorama genético da HPAI está mudando rapidamente. Desde 2021, os vírus HPAI A(H5N1) expandiram sua distribuição geográfica e de hospedeiros, o que resultou em um risco aumentado de transmissão zoonótica.

FONTE: WHO

 

¹ N Engl J Med 2025;393:1650-1652
² Development of avian influenza A(H5) virus datasets for Nextclade enables rapid and accurate clade assignment
³ Virus Genes 2019;55:739-768